quarta-feira, junho 07, 2006

O beijo

Uma amiga me pediu pra escrever sobre o beijo. Ela tem um trabalho ou algo assim e como faz tempo que não escrevo baseado em algum mote, achei o desafio interessante. E aí está. Não sei se ficou legal, mas, enfim, ta aí.

O BEIJO

Ah, o beijo... Existe coisa melhor, mais intensa, mais íntima? Existe maior demonstração de entrega, de cumplicidade? Mas afinal, o que é o beijo? Como - e quando - ele começa?

Diz-se que o beijo é o toque dos lábios sobre qualquer coisa, normalmente uma pessoa. Quem diz isso não sabe o que é beijar. Porque tocar os lábios sobre algo é apenas isso. Beijar é mais, muito mais.

O beijo certamente não começa quando as bocas se tocam. Na verdade, começa muito antes, ainda no olhar. A união das bocas é a realização no mundo das coisas do que já existia no mundo das idéias. O beijo é o abraço do olhar. O beijo é tão íntimo, tão importante, que muitas mulheres o reservam apenas para o escolhido, mesmo quando a castidade já é só uma lembrança à muito esquecida.

Há quem diga que existem beijos fingidos, frios, por obrigação. Mas estes não são beijos. São qualquer coisa, mas não são beijos. Já que beijos são muito mais do que o ato de tocar os lábios.

Beijar é contar um segredo, é seduzir, é encantar. Beijar é distrair, acalmar, apaixonar. Beijar é abrir o caminho para que, graças ao amor, como disse o poeta, a alma mude de casa. Aliás, amar sem beijar não é amar. Ou é menos do que amar. Ou ainda, é amar sem completar. Se amar é mudar a alma de casa, não beijar é trancafiar a alma em uma casa que já não lhe basta mais.

Beijar é dançar, é fazer amor com os lábios - e somente com eles. Ou ainda, com a língua, esta parceira inseparável dos lábios e dos bons beijos. Beijar é jogar a dois e ter a certeza de um empate em que ambos são vencedores.

Beijo bom mesmo é de olhos fechados, como quem apaga a luz do mundo, pra que não exista mais ninguém, mais nada, só o beijo. Porque de olhos fechados se sente mais, se toca mais, se cheira mais. E cheirar a pessoa beijada, sentindo seu aroma, faz do beijo uma experiência ainda melhor.

O beijo bom tem de ser compartilhado e correspondido. Beijo roubado é beijo, mas é beijo pela metade, ao menos até que o roubado passe a compartilhar do desejo de beijar. Por outro lado, o ousado beija mais - e talvez melhor. Porque ousar combina com beijo.

Beijar é aproveitar, curtir a boca beijada, como quem sorve o melhor vinho. Quem beija com pressa, quem força a entrada, perde o melhor do beijo e acaba se engasgando - ou engasgando a pessoa beijada. O beijo é breve, mas como é infinito o tempo do beijar! Como disse outro poeta, o amor é grande e, ainda assim, cabe no breve espaço de beijar.

De tudo, o melhor do beijo é beijar. Porque beijar só se aprende beijando. E beijar nunca é demais. Quem não beija demais, nunca beija o bastante.