segunda-feira, agosto 04, 2008

Monogamia: coisa de sem-vergonha

Já faz algum tempo que não posto nada. Quase 3 meses. Muita coisa aconteceu, muitas mudanças. Algumas mais radicais e fáceis de observar, outras mais sutis, na própria percepção do mundo. Mas viver é mudar, então continuo bem vivo.

Não é muito justo que a primeira postagem depois de tanto tempo seja um "copiar/colar", mas como trata-se do mesmo velho tema, acho que cabe. O tema, claro, é a monogamia. Ou, por outro lado, o fato de o ser humano não ser, afinal, monogâmico. Não é, isso já discutimos bastante aqui. Mas a questão agora é que já acho que a monogamia é possível sim. Radical, mas possível. E o texto a seguir fala exatamente isso. O texto é de Ricardo Leão.

Existem vários bons motivos para alguém escolher a monogamia, mas o melhor deles é a chance de transar sempre com uma pessoa diferente. Afinal, as pessoas mudam o tempo todo.

É por isso que, depois de dois anos de casada, você vai se ver transando com um cara totalmente distinto do namorado com quem você se casou. Melhor? Pior? Mais barrigudo? Sei lá. Mas diferente com certeza.

Você volta do cabeleireiro com aquela franja nova e seu marido encontra em casa outra mulher, não mais aquela que tinha as pontas repicadas até ontem. Ele trocou de emprego? Tesão. Vai ter um cara novo na sua cama.Você perdeu uns quilos no spinning? Gata nova no pedaço. Ele resolveu estudar francês? Nouvelle amour.

Muitos homens e mulheres, porém, não acham que a monogamia pode ser sexualmente satisfatória. Isso é perfeitamente natural. Não é vantagem do ponto de vista da seleção natural, conforme aprendi lendo THE THIRD CHIMPANZEE, do premiado cientista americano Jared Diamond, que analisa em profundidade o comportamento dos humanos em comparação ao dos outros animais.

O livro mostra que somente animais com crias que demoram muito para se desenvolver, como os humanos e os pingüins (veja o filme A MARCHA DOS PINGÜINS), tendem a ser monogâmicos por longos períodos. Como o investimento de tempo e energia para criar os filhotes é muito grande, compensa para o macho se dedicar a uma só fêmea até que a cria seja auto-suficiente pra passar o seu DNA pra frente. E ficar sempre junto dela pra garantir que o DNA do bacuri é dele e não do Ricardão.

Mesmo entre os poucos seres vivos que praticam a monogamia, o índice de infidelidade é altíssimo. Ou seja, além de divertida, a monogamia é meio pervertida, porque é antinatural. O que a torna muito mais excitante.

Como todas as outras práticas sexuais apimentadas, a monogamia deve ser praticada sempre em consenso. Quem quer praticar o sadomasoquismo deve procurar parceiros interessados. Com a monogamia é a mesma coisa. Não é uma questão de sorte. É uma questão de prática. Só deve ser praticada com alguém que também quer praticar, porque a natureza, o tédio e a vizinha gostosa do 304 vão sempre conspirar contra.

Enfim, a monogamia não é um imperativo moral nem vantagem biológica nem a melhor maneira de ser feliz. É coisa de sem-vergonha.